Você já viajou
pelo interior de Alagoas? Há alguns meses eu fui de carro para uma cidade que
fica a apenas uma hora de Maceió, parecia um deserto vermelho de barro
pontilhado de miseráveis vilarejos de uma só rua. O motorista dizia: “isso aqui
é tudo de Renan, isso tudo aqui é de Lyra, isso é de cicrano, isso é de
fulano”. Eu olhava e só via vazios com algumas almas penadas nas estradas;
“isso aqui é do MST”.
Andamos meia
hora sem ver casas ou plantações, além de algumas usinas desativadas, era o
silêncio da miséria, a paz do NADA onde vagam os vassalos do feudalismo
nordestino. Aqueles municípios paralíticos, já são catástrofes, secas, só que
silenciosas, parada no tempo, e de repente essa tragédia fixa, quase invisível,
se transformou numa tragédia bruta e retumbante, e aí o verdadeiro Brasil
apareceu diante de nós, abandonado, sem verbas, só usadas por interesses
políticos do governo.
Só nos restou
a solidariedade, mas como sentir a dor de um pobre homem catando comida na lama,
para dar ao filho chorando no colo, dizendo o que? “ai que horror!”. A solidariedade
tinha que vir antes, para proteger aqueles brasileiros raquíticos, famintos,
analfabetos que só são procurados pelos donos do Nordeste para votos ou para
serem laranjas em roubalheiras das oligarquias.
Arnaldo Jabor
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